CBF recebe evento inédito nesta quarta-feira (24) para debater racismo e luta contra o preconceito no futebol e na sociedade.
Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol. |
Colaboração de foto: Lucas Figueiredo/CBF
Gilberto Gil foi o primeiro a falar no Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF
Ednaldo Rodrigues apresentou proposta de punições desportivas em casos de racismo
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF
O cantor foi seguido por Ednaldo Rodrigues, Presidente da CBF e idealizador do evento. Primeiro negro a ocupar o cargo mais alto na gestão do futebol brasileiro, Ednaldo reforçou que o intuito do Seminário é mostrar que não há espaço para o racismo no futebol e na sociedade.
"Fiz questão de realizar esse evento aqui na sede da CBF para mostrar ao mundo do futebol e aos preconceituosos que ainda frequentam os estádios do país e do mundo que estamos lutando para bani-los. Sabemos que a realidade é dura. Mas estamos aqui para mudar", disse o Presidente da CBF.
O dirigente apresentou uma ideia que pretende levar adiante: a punição desportiva pelos casos de racismo. Ednaldo Rodrigues afirmou que levará ao próximo Conselho Técnico do Brasileirão Assaí, em 2023, a proposta de perda de pontos por episódios de racismo durante a disputa do campeonato.
"Acredito que somente com a pena desportiva sendo imposta diretamente ao clube o racismo e o preconceito deixarão o futebol. Não há mais espaço para racista no século XXI", explicou.
A abertura do evento também contou com a participação do Presidente da CONMEBOL, Alejandro Domínguez, e do Presidente da FIFA, Gianni Infantino. Domínguez esteve presente no evento, no Rio de Janeiro, e fez um breve discurso sobre a importância de ter CBF e CONMEBOL lado a lado na luta contra o preconceito. Infantino, por sua vez, não pôde comparecer, mas enviou mensagem por vídeo para reforçar o apoio institucional da FIFA ao evento e à iniciativa da CBF de ter ações mais concretas contra o racismo.
"O fato deste seminário estar acontecendo é um sinal encorajador. Da mesma maneira, aplaudo a decisão de trazer palestrantes da Europa e também do Brasil, para que se possa aprender com as experiências de outras regiões do mundo. A CONMEBOL agiu corretamente ao introduzir multas mais severas. Mas agora devemos procurar soluções mais abrangentes. E a FIFA está aqui para oferecer todo seu apoio", declarou Gianni Infantino.
A abertura institucional do evento seguiu com as participações do Presidente do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Mizael Conrado, e com o Presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco. O parlamentar teve destacado, por Ednaldo Rodrigues, seu papel na representação legislativa da luta antirracista. Medalhista de ouro no Futebol de 5 nos Jogos Olímpicos de Atenas 2004 e Pequim 2008, Mizael pontuou o papel que a CBF desempenha ao realizar um evento como o Seminário.
"A CBF dá um passo importante ao demonstrar que compreende a importância desse tema para a nossa sociedade, demonstrando que não está alheia ao que os jovens sofrem diariamente nas ruas", afirmou.
Alejandro Domínguez reforçou apoio da CONMEBOL à CBF na luta antirracista
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Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco representou o poder legislativo no Seminário
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF
Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol
Após a apresentação da abertura do Seminário, Marcelo Carvalho e Onã Rudá subiram ao palco do auditório da CBF, para demonstrar os números do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol 2021. A pesquisa, organizada pelo Observatório da Discriminação Racial no Futebol, aponta que o registro de casos de racismo em 2022 já igualou a quantidade acumulada em todo o ano de 2021.
"A partir do momento que se traz um relatório com aumento de casos de racismo, você está reconhecendo que existe o problema, o que é uma questão sempre muito delicada. Reconhecer que existe o problema é o que sempre pensei ser a maior dificuldade para avançarmos. Quando a CBF leva para dentro da sua casa a decisão de ‘vamos mostrar que o problema existe e como ele existe’, a gente está dando um passo muito grande", disse Marcelo Carvalho, diretor executivo e fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol.
Esta é a oitava edição do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol e, pela primeira vez, a pesquisa recebeu apoio institucional da CBF, que colaborou financeira e logisticamente. A entidade irá auxiliar a realização do relatório pelos próximos quatro anos.
"O relatório anual evidencia com clareza o tamanho do problema que enfrentamos e sua publicação periódica permitirá demonstrar os resultados das nossas ações", atestou o Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues.
Marcelo Carvalho, diretor executivo e fundador do Observatório da Discriminação Racial no Futebol
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Onã Rudá, fundador do LGBTricolor e do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQs
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF
Experiência internacional
Se o Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol trouxe o cenário do preconceito no Brasil, a palestra seguinte apresentou um pouco do trabalho realizado internacionalmente. Assessor de diversidade e anti-discriminação da FIFA, Pavel Klymenko falou sobre o que a entidade tem realizado para combater a discriminação de maneira global no futebol.
"A FIFA tem um sistema disciplinar para lidar com esse comportamento, incluindo uma série de sanções que variam de multas e fechamento parcial de estádios, a fechamentos completos e redução de pontos", detalhou Pavel Klymenko, que frisou a importância da Copa do Mundo de 2014 para o que se viu nesta quarta-feira na CBF:
"Fico feliz em saber que a CBF firmou uma parceria com eles (Observatório da Discriminação Racial no Futebol). É um passo muito importante para reconhecer a magnitude do problema. Coletar os incidentes ajuda a focar a atenção de toda a família do futebol no que está acontecendo, quem está sendo visado e por que isso acontece. Tenho certeza de que é um bom exemplo para outros seguirem".
Pavel Klymenko fez explanação sobre práticas adotadas globalmente pela FIFA
Créditos: Lucas Figueiredo/CBF
Relacionamento com os torcedores
Após um intervalo para almoço, o Seminário voltou com um debate fundamental: o Desenvolvimento da Segurança e Prevenção do Racismo e da Violências. Na primeira palestra, estiveram presentes o CEO da SD Europe e especialista em Relacionamento com as Torcidas da UEFA, Stuart Dykes, e a Líder de Desenvolvimento e Treinamento da SD Europe, Lena Wiberg. Os dois dissertaram sobre A implementação do Programa de Agentes de Relacionamento com as Torcidas na UEFA.
ASupporters Direct Europe (SDE) é um braço institucional que liga e coordena as ações de torcidas organizadas no Velho Continente com a UEFA e as respectivas ligas. Durante a palestra, os dois explicaram a função dos Agentes de Relacionamentos com as Torcidas (SLOs), que promovem o diálogo e a integração entre fãs, clubes e federações de futebol.
"O que tentamos fazer é construir esse relacionamento com os torcedores e ser uma influência positiva. Se pudermos dar esse espaço para eles, ser uma influência positiva para eles, para que façam o que eu faço. Somos exemplos. Precisamos estar conscientes do que transmitimos. O que queremos de nosso clube? Queremos racismo, discriminação? Claro que não. Todos merecem ser acolhidos no futebol. Mas precisamos construir essa mensagem", disse Stuart Dykes.
Stuart Dykes, CEO da SD Europe e especialista em Relacionamento com as Torcidas da UEFA
Créditos: André Borges/CBF
Na mesma mesa, também falou o Líder de Planejamento e Operações de Segurança da FIFA, Andrey Reis. Entre os casos levantados, ele citou a capacidade que clubes têm para transformar as torcidas organizadas em aliadas na construção de uma cultura organizacional, com exemplos que vão até mesmo à exploração comercial do ambiente criado por elas.
"Situações onde a relação da torcida com o clube é tão conectada, que existem programas turísticos para trazer pessoas para acompanhar o jogo junto com as torcidas organizadas. Existe um mundo para ser trabalhado. A torcida faz parte do show. Reduzir a violência, a discriminação na torcida, faz parte dessa melhoria que vem para todos", afirmou.
Segurança nos Estádios
O último painel do Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol abordou questões de segurança nos estádios, no entorno das praças esportivas e também de coordenação com os órgãos públicos. Dentre os palestrantes estavam Alejandro Moreno, Coordenador de Segurança das Competições CONMEBOL, Rodrigo Carnevale, delegado de Polícia Federal e chefe da Interpol Brasil, e Thiago Horta Barbosa, agente da Polícia Federal e especialista do Projeto Stadia da Interpol.
"Nós temos a responsabilidade de acompanhar, regular e estar próximos dos clubes e membros afiliados, dando todo o suporte possível com as autoridades policiais. Principalmente nas partidas decisivas. Estamos aqui para oferecer e compartilhar o nosso conhecimento adquirido ao longo dos últimos anos", disse Alejandro Moreno.
A mesa ficou marcada pelo momento em que o Padre Omar Raposo, reitor do Santuário Cristo Redentor e mediador do debate, fez um anúncio importante. O Presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, foi convidado pelo Vaticano para participar de um evento com o Papa Francisco. O Cimeira Internacional: Esporte para Todos, congresso sobre inclusão social promovido pela cidade-estado, será realizado nos dias 29 e 30 de setembro deste ano.
"O convite ao presidente da CBF é o reconhecimento ao trabalho que ele vem fazendo de reconstrução da imagem da entidade, com ações como o campeonato para indígenas que será realizado na Amazônia, bem como estímulo ao combate à violência", comentou o religioso.
O Seminário de Combate ao Racismo e à Violência no Futebol é uma iniciativa da CBF, com apoio e parceria da FIFA, da CONMEBOL e do Observatório da Discriminação Racial no Futebol. O evento foi realizado pela primeira vez nesta quarta-feira (24), e promete ser um pontapé inicial em uma nova era de combate à discriminação no futebol brasileiro.
Clique aqui e leia tudo sobre o Seminário no site da CBF.
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