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quarta-feira, 6 de abril de 2022

Copa dos Refugiados relembra conceito da Diplomacia do Ping-Pong em ação do Dia Mundial do Tênis de Mesa

Evento foi realizado na Arena Carioca I e reuniu refugiados de Angola e Congo em um torneio amistoso; participantes ganharam bolsas para treinarem em Polo de Desenvolvimento Regional da CBTM.

Elysee e Carlos Daniel se abraçam após a final da Copa dos Refugiados.
Colaboração de texto: Nelson Ayres/Fato&Ação
Colaboração de foto: Miriam Jeske/CBTM
 
Em abril de 1971, a equipe norte-americana de tênis de mesa visitou a China, convidada pelo país asiático, após o Campeonato Mundial de Nagoya (JPN). Foi a primeira delegação dos Estados Unidos a pisar em território desde 1949, reaproximando os dois países. No ano seguinte, o presidente Richard Nixon fez uma visita oficial à China. Por este motivo, a ação ficou conhecida por Diplomacia do Ping-Pong. Este conceito de reaproximação através do esporte é o tema que está sendo trabalhado neste ano no Dia Mundial do Tênis de Mesa, comemorado nesta quarta-feira (6), e que foi ressaltado em ação promovida pela Confederação Brasileira de Tênis de Mesa (CBTM).
 
No último sábado (2), a entidade promoveu a Copa dos Refugiados durante a realização do TMB Platinum – Ciclo I, na Arena Carioca 1, no Rio de Janeiro. O palco dos Jogos Olímpico Rio 2016 recebeu seis pessoas refugiadas de Angola e Congo, que jamais tiveram contato com a modalidade. Depois do torneio, todos receberam bolsas para treinar no Polo de Desenvolvimento Regional da CBTM no Rio de Janeiro.
 
A ideia básica era mostrar, através do tênis de mesa, que possível um mundo onde todos tenham as mesmas oportunidades, em tempos de polarização e guerras que ceifam a vida de milhares de seres humanos. “Introduzimos os primeiros elementos do tênis de mesa por meio da Universidade do Tênis de Mesa. Indicamos caminhos para que todos possam vivenciar a modalidade incluindo perspectivas profissionais. É o conceito da Diplomacia do Ping-Pong, cada vez mais consolidando a mensagem do nosso maravilhoso esporte”, comenta o presidente da CBTM e vice-presidente da Federação Internacional do Tênis de Mesa (ITTF), Alaor Azevedo.
 
Esperança através da música e esporte
 
Os refugiados, que fizeram parte do “Projeto Dó, Ré, Mi” de acolhimento através da música, do Santuário Cristo Redentor, tiveram uma pequena aula durante a semana, em ação da Universidade do Tênis de Mesa, com a professora Taisa Belli, e o multicampeão Hugo Hoyama, embaixador da modalidade no Brasil. Ao chegarem, se impressionaram com a grandeza da Arena e as muitas mesas. O congolês Fruit Beby, ao saber que Hoyama tinha seis Olimpíadas no currículo, fez questão de cumprimentá-lo.
 
Fruit Beby é artista e compositor de rap, e estuda para ser ator cinematográfico. Sua música preferida fala sobre a cultura e sobre a união dos povos e sobre uma África unida: “Um artista tem de cantar a realidade. Há muitas músicas que eu escrevi e estou escrevendo que são sobre a realidade, que são bem significativas e que têm um grande significado para mim. Elas têm de passar essa mensagem”.
 
Os pais dele tiveram problemas com o governo do seu país natal e, por isso, eles o trouxeram para o Brasil. “É muito difícil. Nunca tinha ido a um país que fala português. Estou aprendendo a língua com a vivência, enquanto tento falar. Essa é a realidade da vida e é importante não desistir, temos de seguir o caminho que a vida vai te colocar. A vida que está me levando. O esporte reúne todo mundo, todas as raças, todas as nacionalidades. O esporte une as pessoas”, explica.
 
O angolano Carlos Daniel Dollis veio ao Brasil para fazer faculdade e tem um irmão que morava no Brasil há dez anos. Estudou na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Faculdade Estácio de Sá. “É um desafio sair de um país que você conhece para um país que não. Aqui não tinha amigos, eu vivia dentro de casa, só saía com o meu irmão. Eu ficava com medo também da questão da segurança pública, tinha medo da violência. Mas, graças a Deus, eu consegui superar isso com o tempo”, relata Daniel, que pratica artes marciais, lutando jiu jitsu há dez anos, e queria ter a oportunidade de fazer outras modalidades, a qual ganhou com o tênis de mesa.
 
O congolês Mpembele Zoka Elysee chegou ao Brasil há nove anos. A família teve problemas políticos, sofreu perseguição e precisou sair do país. “É complicado no começo, pois você chega em um país que não fala a sua língua, tem de se adaptar, é tudo novo. A gente acaba passando por muita coisa no começo por ser preto, por não falar bem português, acaba sofrendo discriminação, preconceito, que, infelizmente, certas pessoas têm. Essa é a nossa maior dificuldade no começo. Não que isso ainda não aconteça atualmente, mas a gente aprende a relevar certas coisas”, diz.
 
O torneio foi vencido por Elysee, que bateu o angolano Daniel na final, por 11 a 3. Após a vitória, ele, que busca crescer na música, aproveitou para entoar uma composição de sua autoria. Na letra, lembrava dos seus antepassados africanos, transformados em escravos nas Américas e Europa; do racismo que ainda impera em todo o mundo; e da situação de refugiado num país tão distante. Mensagens que devem permanecer em nossas mentes e motivação para buscarmos, através do esporte, um mundo com maior entendimento entre os pessoas.
 

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