Após
transição de gênero e mudança de nome, mesa-tenista brasileiro conquistou sua
terceira medalha em Assunção, a primeira dourada com sua nova identidade.
Colaboração
de texto: Nelson Ayres/CBTM
Colaboração de foto: Paloma Mutti/ULTM
Luca
Kumahara cheira a medalha. E no início da tarde desta quarta-feira, dia 12, o
mesa-tenista brasileiro conquistou a sua terceira nos Jogos Sul-Americanos, em
Assunção, no Paraguai. Mas desta vez o aroma da conquista foi outro. Se antes
tinha cheiro de bronze, agora tem o perfume inigualável do ouro. Na final
individual contra a argentina Camila Arguelles, Luca triunfou por 4 sets a 1,
em duelo decidido nos detalhes, com duração de 42 minutos. As parciais foram de
11/8, 11/7, 11/8, 6/11 e 13/11.
O
mesa-tenista, que por questões burocráticas ainda compete com o nome de
Caroline, abriu o seu coração ao falar da conquista. “Estou muito feliz por ter
conquistado meu primeiro título oficialmente como Luca Kumahara. Antes algumas
pessoas sabiam de minha mudança, outras não, mas publicamente é a minha
primeira conquista com meu novo nome”, informou.
E
o primeiro set da final contra a argentina foi parelho até o empate em 4 a 4.
Na sequência, Luca obteve uma sequência de três pontos que fizeram toda a
diferença na parcial. Venceu por 11 a 8, principalmente por conseguir pontuar
quando tinha o saque a seu favor. No segundo set, abriu de cara uma vantagem de
dois pontos, que trabalhou até obter uma nova série de pontos consecutivos,
desta vez quatro, administrando a diferença até fechar em 11 a 7.
“Joguei
algumas vezes com a Camila neste último ano e tinha uma ideia do que precisava
fazer. Sabia que precisava ser muito agressiva, não podia deixar ela impor o
ritmo, por isso tinha que estar preocupado em impor o meu ritmo. Taticamente
fui ajeitando durante o jogo”, descreveu o medalhista de ouro.
Apesar
de repetir o placar da primeira parcial, 11 a 8, o terceiro set foi imprevisível.
A igualdade prevaleceu até o empate em sete pontos, quando Luca conseguiu
empilhar três pontos em sequência, para vencer e ficar muito próximo do ouro.
No
quarto set, jogando contra as cordas Camila atacou o saque de Luca e quebrou o
serviço do brasileiro por seis vezes. Foi o diferencial para sair vencedora por
11 a 6 e seguir viva na disputa. “A Camila coloca muito efeito no saque e ataca
bem angulado. É difícil manter o foco o jogo inteiro e, se você perde um pouco,
ela já se recupera ou abre vantagem”, analisou Luca.
O
quinto – e último – set foi maluco. Na reta final, Luca teve o ponto do jogo a
seu favor, com o placar apontando 10 a 9. Porém, a argentina virou para 11 a 10
e tomou para si a chance de vencer a parcial e ganhar nova sobrevida no jogo.
Mas Luca não estava disposto de encarar mais um set e buscou forças para
pontuar três vezes em sequência, fechando em 13 a 11. “Com certeza não foi um
torneio fácil. Eu sabia que era a cabeça de chave número um e que todos viriam
para cima de mim. Nunca é fácil jogar como favorito e consegui vencer mesmo com
essa pressão”, desabafou Luca.
“A
final foi um jogo mais cômodo do que a semifinal e como a adrenalina não estava
alta, o Luca precisou manter o foco a todo momento, no saque e na recepção”,
ponderou o técnico Bruno Costa. “A conquista individual dele foi muito
gratificante. Ele soube a todo momento lidar com a pressão do favoritismo, o
que não é fácil”, enalteceu. “Todos queriam ganhar dele, desbancar o favorito,
mas principalmente na semifinal e na final ele suportou muito bem a pressão”,
concluiu Costa.
Na
semifinal Luca cedeu seus primeiros sets no evento, mas despachou a chilena
Daniela Ortega por 4 a 2. O duelo foi bastante equilibrado, com quatro sets
precisando ir para o desempate. Mas deu Brasil, com parciais de 12/14, 13/11,
12/14, 11/7, 12/10 e 11/4. “Na semifinal o Luca passou por algumas situações
adversas, com a adversária colocando muita pressão sobre ele. Mas se manteve
focado no jogo, respeitando a oponente”, descreveu Costa.
“A
semifinal foi muito difícil. Ela estava muito bem, devolvendo todas as bolas”,
reconheceu Luca. “Depois da semifinal eu estava muito cansado e não tive muito
tempo para pensar na final. Pensei apenas em recuperar o meu corpo e voltar ao
foco para mais um jogo, que também foi muito difícil e decidido nos detalhes”,
acrescentou.
Apoio do Time Brasil
Além
do aroma dourado da medalha, Luca exalava felicidade com sua conquista
pioneira, não se esquecendo de agradecer todos que o apoiaram na caminhada em
Assunção. “Gostaria de agradecer todo o acolhimento que estou recebendo. O
carinho, o apoio e o suporte, que não está sendo pequeno”, externou Luca.
“Estava um pouco ansioso e receoso de como seria a recepção aqui, mas desde o
início o Time Brasil e o Comitê Olímpico do Brasil foram impecáveis comigo, me
chamando de Luca, fazendo eu me sentir muito bem para jogar, com uma
preocupação a menos e uma comodidade a mais”, agradeceu.
“É
um passo muito importante para mim e trazer isso publicamente foi muito
impactante a nível pessoal, mas não sabia que iria impactar tanto a nível
profissional. Eu não esperava tanto suporte”, concluiu o campeão.
Luca Kumahara conquistou o primeiro ouro do Brasil nos Jogos. |
Colaboração de foto: Paloma Mutti/ULTM
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