Evento foi realizado na Arena Carioca I e
reuniu refugiados de Angola e Congo em um torneio amistoso; participantes
ganharam bolsas para treinarem em Polo de Desenvolvimento Regional da CBTM.
Colaboração
de texto: Nelson Ayres/Fato&Ação
Colaboração
de foto: Miriam Jeske/CBTM
Em abril de 1971, a equipe norte-americana de
tênis de mesa visitou a China, convidada pelo país asiático, após o Campeonato
Mundial de Nagoya (JPN). Foi a primeira delegação dos Estados Unidos a pisar em
território desde 1949, reaproximando os dois países. No ano seguinte, o
presidente Richard Nixon fez uma visita oficial à China. Por este motivo, a
ação ficou conhecida por Diplomacia do Ping-Pong. Este conceito de
reaproximação através do esporte é o tema que está sendo trabalhado neste ano
no Dia Mundial do Tênis de Mesa, comemorado nesta quarta-feira (6), e que foi
ressaltado em ação promovida pela Confederação Brasileira de Tênis de Mesa
(CBTM).
No último sábado (2), a entidade promoveu a
Copa dos Refugiados durante a realização do TMB Platinum – Ciclo I, na Arena
Carioca 1, no Rio de Janeiro. O palco dos Jogos Olímpico Rio 2016 recebeu seis
pessoas refugiadas de Angola e Congo, que jamais tiveram contato com a
modalidade. Depois do torneio, todos receberam bolsas para treinar no Polo de
Desenvolvimento Regional da CBTM no Rio de Janeiro.
A ideia básica era mostrar, através do tênis de
mesa, que possível um mundo onde todos tenham as mesmas oportunidades, em
tempos de polarização e guerras que ceifam a vida de milhares de seres humanos.
“Introduzimos os primeiros elementos do tênis de mesa por meio da Universidade
do Tênis de Mesa. Indicamos caminhos para que todos possam vivenciar a modalidade
incluindo perspectivas profissionais. É o conceito da Diplomacia do Ping-Pong,
cada vez mais consolidando a mensagem do nosso maravilhoso esporte”, comenta o
presidente da CBTM e vice-presidente da Federação Internacional do Tênis de
Mesa (ITTF), Alaor Azevedo.
Esperança
através da música e esporte
Os refugiados, que fizeram parte do “Projeto
Dó, Ré, Mi” de acolhimento através da música, do Santuário Cristo Redentor,
tiveram uma pequena aula durante a semana, em ação da Universidade do Tênis de
Mesa, com a professora Taisa Belli, e o multicampeão Hugo Hoyama, embaixador da
modalidade no Brasil. Ao chegarem, se impressionaram com a grandeza da Arena e
as muitas mesas. O congolês Fruit Beby, ao saber que Hoyama tinha seis
Olimpíadas no currículo, fez questão de cumprimentá-lo.
Fruit Beby é artista e compositor de rap, e
estuda para ser ator cinematográfico. Sua música preferida fala sobre a cultura
e sobre a união dos povos e sobre uma África unida: “Um artista tem de cantar a
realidade. Há muitas músicas que eu escrevi e estou escrevendo que são sobre a
realidade, que são bem significativas e que têm um grande significado para mim.
Elas têm de passar essa mensagem”.
Os pais dele tiveram problemas com o governo do
seu país natal e, por isso, eles o trouxeram para o Brasil. “É muito difícil.
Nunca tinha ido a um país que fala português. Estou aprendendo a língua com a
vivência, enquanto tento falar. Essa é a realidade da vida e é importante não
desistir, temos de seguir o caminho que a vida vai te colocar. A vida que está
me levando. O esporte reúne todo mundo, todas as raças, todas as
nacionalidades. O esporte une as pessoas”, explica.
O angolano Carlos Daniel Dollis veio ao Brasil
para fazer faculdade e tem um irmão que morava no Brasil há dez anos. Estudou
na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Faculdade Estácio de
Sá. “É um desafio sair de um país que você conhece para um país que não. Aqui
não tinha amigos, eu vivia dentro de casa, só saía com o meu irmão. Eu ficava
com medo também da questão da segurança pública, tinha medo da violência. Mas,
graças a Deus, eu consegui superar isso com o tempo”, relata Daniel, que pratica
artes marciais, lutando jiu jitsu há dez anos, e queria ter a oportunidade de
fazer outras modalidades, a qual ganhou com o tênis de mesa.
O congolês Mpembele Zoka Elysee chegou ao
Brasil há nove anos. A família teve problemas políticos, sofreu perseguição e
precisou sair do país. “É complicado no começo, pois você chega em um país que
não fala a sua língua, tem de se adaptar, é tudo novo. A gente acaba passando
por muita coisa no começo por ser preto, por não falar bem português, acaba
sofrendo discriminação, preconceito, que, infelizmente, certas pessoas têm.
Essa é a nossa maior dificuldade no começo. Não que isso ainda não aconteça
atualmente, mas a gente aprende a relevar certas coisas”, diz.
O torneio foi vencido por Elysee, que bateu o
angolano Daniel na final, por 11 a 3. Após a vitória, ele, que busca crescer na
música, aproveitou para entoar uma composição de sua autoria. Na letra,
lembrava dos seus antepassados africanos, transformados em escravos nas
Américas e Europa; do racismo que ainda impera em todo o mundo; e da situação
de refugiado num país tão distante. Mensagens que devem permanecer em nossas
mentes e motivação para buscarmos, através do esporte, um mundo com maior
entendimento entre os pessoas.
Elysee e Carlos Daniel se abraçam após a final da Copa dos Refugiados. |
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