Movimento de coalização de ex-atletas,
cientistas e médicos reascende drama de atletas femininas banidas e desafia
posicionamento da World Athletics (WA).
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Movimento reúne ex-atletas, cientistas e médicos. |
Fonte: Inovem Comunicação
Na última semana, a Corte Suíça negou
recurso da velocista Caster Semenya, medalhista de ouro nos 800m na Rio-2016. Um
grupo de mulheres atletas está impossibilitado de competir em provas oficiais
por registrarem taxas naturais de testosterona acima do padrão. Visto por
alguns especialistas como um sinal de intolerância, preconceito e baixa
empatia, a normativa já encerrou prematuramente a carreira de dezenas de
esportistas e hoje ameaça a trajetória de várias corredoras, inclusive as três
medalhistas dos 800m nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016: Francine
Niyonsaba, do Burundi, Margaret Wambui, do Quênia, e a bicampeã olímpica Caster
Semenya, da África do Sul, cuja apelação foi negada na última terça-feira (8),
no Supremo Tribunal da Suíça, e ela só competirá se usar medicação para reduzir
seu nível de testosterona.
A recente derrota da sul-africana nos
tribunais suíços é o último lance de uma longa história. Um dos principais
nomes do atletismo mundial, Caster foi impedida pela World Athletics (WA),
antiga International Association of Athletics Federations (IAAF - Associação
Internacional de Federações de Atletismo), de defender seu título nos Jogos de
Tokyo-2020. A federação condicionou a participação da atleta ao uso de
supressores hormonais. O caso reascende às "nude parades" da década
de 1960 quando competidoras femininas eram submetidas a um humilhante exame de
comprovação de sexo biológico.
Diante da desigualdade, surge o
movimento #LetHerRun, uma coalizão de ex-atletas, cientistas desportivos e
acadêmicos, entre elas a ex-jogadora de vôlei Jaqueline Silva, primeira mulher
brasileira medalhista de ouro em Jogos Olímpicos, e Kátia Rubio, professora da
Escola de Educação Física e Esporte da USP.
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O caso merece a atenção de toda a sociedade. |
"O caso da Caster merece a nossa
atenção, porque determina o destino de dezenas de outras atletas que terão suas
carreiras extintas prematuramente apenas por terem nascido fora dos padrões
impostos por tecnocratas de uma agência regulamentadora. Por que a produção de
hormônios naturais não invalidou nenhuma carreira masculina até hoje? Alguém já
parou para comparar os níveis de testosterona do Usain Bolt com os do Justin
Gatlin, por exemplo?", indaga Jackie Silva, embaixadora do movimento.
Idealizado pela agência Africa, o
movimento conta com filme de lançamento,
retratando as "nude parades" e os constrangimentos causados às
atletas mulheres. O #LetHerRun traz uma carta aberta para a World Athletics e
seu presidente Sebastian Coe, diante da desigualdade de tratamento - homens não
são limitados a um teto de testosterona natural para competir -, a fim de
reverem o banimento das atletas e publicamente pedirem desculpas àquelas mulheres
submetidas às nude parades.
"A história do esporte olímpico é
marcada por grandes lances de superação que inspiram o avanço humano. Porém, o
caso da Caster é uma traição desta história. É um retrocesso que apequena o
sonho olímpico de solidariedade e inclusão. Espero que esse erro não precise
ser revisto daqui há algumas décadas como as injustiças cometidas contra outros
atletas do passado", afirma Kátia Rubio, professora da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo (USP) e uma das consultoras do movimento.
Por mais surreal que possa parecer, a
World Athletics ainda exige de atletas femininas uma comprovação de sexo
biológico. Durante as Olimpíadas de Moscou, em 1980, Jackie Silva foi submetida
sem saber a um desses exames. O episódio está longe de ser um fato isolado.
Impedida de competir, Caster Semenya
atualmente trabalha na equipe técnica de um time de futebol feminino em seu
país de origem.
"Estou muito desapontada com esta
decisão, mas me recuso a permitir que a World Athletics me drogue ou me impeça
de ser quem eu sou. Excluir atletas do sexo feminino ou colocar nossa saúde em
risco apenas por causa de nossas habilidades naturais coloca o atletismo
mundial no lado errado da história", disse Semenya após a última decisão
nos tribunais.
Para saber mais, ajudar ou pedir ajuda
acesse: www.letherrun.tokyo